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Prática

PESQUISA CHÃO

No achamento do chão também foram encontradas as origens do voo.  (Manoel de Barros)

 

É preciso fazer cantar os pontos de apoio. (Villanova Artigas – Arquiteto brasileiro)

 

Tanto o poeta como o arquiteto das epígrafes nos trazem um contraponto interessante ao que se costuma fazer com a educação brasileira nas Universidades e, por consequência, com o ensino em geral – quase sempre, os pesquisadores partem do voo ou constroem pelas cumeeiras – são condoreiros, gostam das alturas, dos grandes autores, das linhas consensuais do primeiro mundo. Filia-se em primeiro lugar. O chão? Pouco se vê! Salvo raras exceções, temos uma educação afiada com o resto do mundo, com a Suíça, França, Espanha, EUA, Inglaterra etc.  Atualmente, na área de Língua Portuguesa professa-se o bakhtinismo ou “ensino por gêneros”, filtrado por educadores suíços. Esse ensino foi extraído do grande Bakhtin, que de fato é um pesquisador substancioso, atravessou as universidades e instituições educacionais e se encalacrou no neoliberalismo. A partir dele, proliferam nas aulas, nos livros didáticos, nas apostilas de formação de professores, um conjunto de gêneros que tem como pretensão recobrir o universo de letramento do aluno, contemplar sua cidadania, desenvolvendo habilidades e competências (tudo do jeito que a Europa manda, sem achar o chão, flutuando por cima da realidade escolar).  Quando a gente se detém pra ver quais os efeitos, ou seja, quando a gente tenta achar o chão desses voos, percebemos: livros didáticos recheados de textos prosaicos, curtos e de pouco interesse para a infância (bula de remédio, receita culinária, logomarcas, propagandas, textos instrucionais etc.), banalizando a essência da infância brasileira, que é sua capacidade de fantasiar e de mobilizar suas energias a partir da fantasia. 

Enquanto não fizermos cantar os pontos de apoio da escola brasileira, enquanto não descobrirmos o voo a partir do chão, ainda seremos colonizados. Muitos pesquisadores brasileiros orgulham-se de suas posições altaneiras, assumindo de cabo a rabo os “istas” e “anos” (marxista, freudiano, vygotskyano, piagetiano, ferreirista, lacaniano, foucaultiano etc.) nesse processo de neocolonialismo, que quase sempre se transforma em neoliberalismo, constroem as políticas educacionais juntamente com os políticos profissionais.

Nosso movimento, nosso grupo de pesquisa, decidiu pelo “chão da escola” – aproveitamos essa expressão trazida ao grupo pela nossa colega  Maria Conceição Costa, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, cujo chão de pesquisa é o árido sertão de Pau dos Ferros.

Para nós, a pesquisa começa e termina no chão da escola, mesmo que para isso a teoria desande. Aliás, desandar teorias ou, como diziam os modernistas antropofagizá-las, é nossa missão. Nesta seção você encontrará materiais para utilizar em sala de aula.

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